Saúde mental: desafios e possibilidades por Romualdo Sales.
A Saúde mental se configura como uma vasta problemática envolvendo vários fatores, os quais, o preconceito, estigmatização, falta de conhecimento são preponderantes frente às demandas apresentadas, assim, apesar dos avanços proporcionados pela reforma psiquiátrica, ainda há muita desinformação sobre como lhe dar com estes problemas.
A doença mental, já foi analisada de múltiplas formas, de acordo com padrões sociais e culturais, os quais ofereceram as seguintes interpretações: como dádiva dos deuses, como falha da natureza, como exacerbação da vontade, dentre outras, neste sentido, é possível identificar o poder que a cultura e a sociedade exercem sobre as interpretações dos fenômenos, podendo beneficiar o dificultar análises mais detalhadas dos fatos.
Dentre várias configurações, por muito tempo o louco foi considerado um perigo para a sociedade, assim, a exclusão do convívio social apresentou-se com alternativa para deter esses pacientes. Neste sentido, a criação do manicômio foi instituída, correspondendo às instalações, nas quais, os loucos eram isolados do convívio social. Nestes ambientes, os pacientes recebiam tratamentos de choques, dentre outras torturas físicas e psicológicas. Até alimentação era algo extremamente desumano, como analisa:
Fome e sede eram sensações permanentes no local onde o esgoto que cortava os pavilhões era fonte de água. Nem todos tinham estômago para se alimentarem de bichos, mas os anos no Colônia consumiram os últimos vestígios de humanidade. Além de alimentação racionada, no intervalo entre o almoço e o jantar servidos ao meio dia e as 5 horas da tarde, os pacientes não comiam nada.(ARBEX, 2013,p 41)
Com os movimentos de redemocratização no Brasil na década de 1970, um ponto que ganhou dimensões consideráveis é a discussão sobre o cuidado em saúde mental. Vários psiquiatras, psicólogos discutem medidas para estabelecer cuidado humanizado, desconstruindo os estigmas sobre os problemas relacionados à saúde mental, as quais, psicoses, neuroses, autismo, dentre outras. Assim, as discussões estabeleceram bases para tratamentos “alternativos” que consiga fazer a ponte entre sociedade e usuários dos serviços de saúde mental.
As novas abordagens de tratamentos e cuidado em saúde mental traçaram estratégicas para atender pacientes com transtornos mentais severos, mantendo o vínculo com suas famílias e sociedade como um todo, conseguindo oferecer atendimento integral e dialogado, primando pelo bem está do paciente e manutenção dos vínculos, tendo como objetivos quebrar os paradigmas e efetivar práticas humanizadas nos tratamentos em saúde. Neste sentindo, os Centros de Atenção psicossocial (CAPS), em suas múltiplas modalidades, conseguem estabelecer articulações entre a “instituição” e a sociedade, problematizando os limites e possibilidades dos seus usuários, valorizando suas potencialidades e fornecendo condições para o exercício da cidadania.
Os CAPS são compostos por equipes multidisciplinares, que em articulações diretas entres os profissionais, usuários e famílias, conseguem efetivar abordagens alternativas no que tange o cuidado em saúde mental. Estas estruturas vinculam-se a outras que fornecem suportes para o cuidado, com a RAPS, Rede de Atenção Psicossocial, os serviços de Residências Terapêuticas, esta última recebe pacientes que passaram por processo de longas internações em hospitais psiquiátricos e perderam vínculos com familiares.
Um ponto interessante de discutir é que os problemas da saúde mental também podem ser desencadeados por drogas e outras substâncias psicoativas, neste sentido, é preciso esclarecer que essas substâncias causas dependências química, podendo desencadear problemas de saúde mental para pessoas que apresentam pré-disposição. Estes pacientes devem ser tratados pelas as unidades de serviços já apresentadas, buscando efetivar o tratamento como caminho para a reinserção social e exercício da cidadania.
O dia mundial da saúde mental se apresenta com um desafio para os governantes, profissionais, usuários e sociedade civil como um todo. Os problemas que perpassam este campo da área de saúde são enfrentados ainda com muitos desafios por parte da sociedade. A desinformação é um fator marcante, trazendo consigo o medo, a criminalização, o preconceito. Por todos esses elementos faz-se necessário institui-se um dia para marcar essa luta que é algo construído a cada dia por setores individuais e coletivos, os quais, todos estão inseridos de forma direta ou indireta.
Referências
ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortos no maior hospício do Brasil.1. ed. São Paulo: Geração Editoria, 2013.
FEUERWERKER, L.C.M. Micropolítica e Saúde: produção do cuidado, gestão e formação. 1. ed. Porto Alegre: Rede Unida, 2014.